domingo, 2 de dezembro de 2018

Em sua obra A Persistência do Antigo Regime , de 1981, Arno J. Mayer argumenta que o poder e a influência da aristocracia não desapareceu por completo, no século XIX, apesar do avanço da burguesia, através das revoluções liberais e da Revolução Industrial. O poder das antigas aristocracias europeias ainda se fazia sentir no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. A aristocracia desejando manter poder político -- a despeito da perda de sua antiga funcionalidade econômica e política, com o avanço do capitalismo industrial -- explicaria a Primeira Guerra Mundial, a emergência do fascismo, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.
A dinâmica do capitalismo industrial e da ordem liberal democrática gerou várias tensões nas nações europeias, do século XIX e XX, tensões étnicas, nacionais, sociais, e ideológicas. A luta ideológica e étnica na Europa, estilhaçou o pensamento liberal democrático e sua hegemonia cultural. A antiga aristocracia, por sua vez, sem sua função tradicional, se inseriu nesse contexto, difundindo uma ideologia reacionária, autoritária, investindo, assim, contra o ideal igualitário do pensamento liberal, reacionarismo que sustentava teses como a seleção natural no nível social, o caso do darwinismo social. Era uma resposta ideológica ao desafio colocado a sua existência como classe. [1] [2]
Tal ideologia reacionária era mais poderosa onde a incapacidade da burguesia e de sua ideologia em lidar com esses conflitos e tensões se fazia sentir de modo mais evidente. Essas ideias reacionárias serviam como resposta à contestação socialista, e à Revolução Russa.
A revolução industrial não foi um processo homogêneo, em certos países, o poder e a ideologia aristocrática ainda subsistiam com relativa força. Países com burguesia mais débil e tradição democrática mais fraca abriram as portas para essa ideologia de modo franco, como forma de enfrentar os desafios colocados pela modernidade.
Cai por terra, na perspectiva de Arno Mayer, a ideia otimista do avanço de um mundo racional, próspero, democrático, de modo generalizado, com o advento da burguesia, sobre os escombros da Bastilha em 1789, como pretendia a ideologia liberal.
Não há linearidade, não há teleologia, há avanços e recuos na história. As instituições republicanas não foram constituídas do zero, o Antigo Regime não havia desaparecido totalmente com a Revolução de 1789, nem com a Revolução de 1848, afirma Arno J. Mayer. [3] [4]

Crítica

O historiador britânico Eric Hobsbawn, nas suas três grandes obras, a Era das Revoluções (1789-1848), de 1962, a Era do Capital (1848-1875), de 1975, e A Era dos Impérios (1875-1914), de 1987, narra as transformações vividas pela sociedade britânica no século XIX, a formação do império colonial, a revolução industrial e o contexto europeu com as revoluções liberais, ele não tem dúvida em afirmar que a burguesia se tornou a classe dominante, e a Inglaterra uma sociedade capitalista, regida pelos princípios da economia liberal. A nobreza passou a exercer outras funções na administração, como na área do ensino por exemplo, e a depender de atividades empresariais para viver. Não houve uma persistência da aristocracia como classe dominante, no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, como afirma Arno Mayer. O que houve, na verdade, foi a adoção de um estilo de vida aristocrático pela burguesia. Foram os capitalistas que adotaram os valores da antiga aristocracia proprietária de terras e não uma submissão da burguesia ao poder da antiga aristocracia rural em troca de uma suposta segurança para seus negócios. [5]

Ver também

Escola de Annales

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