Pensamento
Tilly
escreveu muito sobre uma grande variedade de temas, como por exemplo :
confronto político, movimentos sociais, história do trabalho, macro
processos históricos, formação dos Estados nacionais, desigualdade
social, teoria do desenvolvimento, método comparativo,
institucionalismo, a
guerra,
revolução, democratização, violência coletiva,
desigualdade social,
sociologia urbana,
e é um precursor dos métodos quantitativos em análise histórica. Temas
desenvolvidos em importantes obras como : From mobilization to
revolution, 1978; The politics of collective violence, 2003, Contention
and democracy in Europe, 1650-2000, 2004; Social movements, 1768-2004,
2004); The contentious French, 1986; European revolutions, 1992;
Coercion, capital, and European States, A.D. 990-1990, de 1990; As
sociology meets history, 1981; e Big structures, large processes, huge
comparisons, 1985).
[3]
Seus primeiros estudos foram sobre imigração e sociologia urbana
dos Estados Unidos. O relacionamento e a complementação entre grupos
sociais.
A obra de Charles Tilly, seus trabalhos sobre movimentos sociais,
nos anos 1970, foi um marco, ela combateu teorias economicistas e
psicologizantes, explicando, internamente, ao campo político,
o processo de mobilização coletiva. Tilly apresenta a lógica dos
confrontos políticos e modo como se relacionam com o contexto político,
social e econômico. O relacionamento complexo dos elementos culturais
com os processos políticos.
Seu estudo histórico comparativo sobre a
ação coletiva,
tem como referência os séculos XVIII e XIX, Tilly demonstra que cada
época tem um repertório diferente e uma forma de organização que torna o
movimento mais ou menos eficiente. Na perspectiva da sua sociologia do
conflito, Tilly foi um crítico do
individualismo metodológico, da
microssociologia e da Teoria da Escolha Racional.
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[5]
O "repertório" não é propriedade exclusiva de um dado grupo, mas
uma estrutura compartilhada de conflito. Ele pode ser mais ou menos
limitado, segundo cada estrutura histórica de conflito. O confronto é
entendido como estruturante.
Não se pode recorrer a um esquema de atores lançando mão de meios
para o alcance de fins específicos, ou seja, o emprego de um repertório
dado de meios, como propõe a Teoria da Escolha Racional.
O conceito de "repertório" trata de interações, relações, entre
grandes grupos de atores, e não ações isoladas. O conceito é
relacional, uma interação entre várias partes. O "repertório" é
estrutural e estruturante, engloba formas de pensar, desejos, valores e
crenças e sua transformação. É, portanto, um conhecimento social
sedimentado, composto por memórias e acordos compartilhados. Implica
padrões e suas variações, o repertório delimita as possibilidades da
rotina, como uma língua que varia nas falas e dialetos, ou na desempenho
individual.
O conceito de "repertório" é utilizado para explicar a ação
coletiva, o limitado leque de opções no confronto político, em
determinados períodos históricos, dentro de processos culturais de longa
duração e de suas correspondentes transformações sociais.
Tilly chegou ao conceito de "repertório", a partir da teoria
interacionista de E. Goffman e do conceito de "mentalidade" da Escola de
Annales, extraindo elementos das duas correntes, constituindo, assim, a
sua metodologia de pesquisa e estudo da "política contenciosa".
[6]
Formação do Estado nacional
Charles Tilly é muito conhecido por suas análises de grandes
processos de transformação histórica como a formação dos estados
nacionais europeus. Ele esforça-se por explicar como essa entidade
política se tornou dominante em relação às organizações políticas
anteriores. A formação dos Estados nacionais exigiu um elevado nível de
coerção e de capital. A partir da
Idade Média,
o alto nível de coerção e capital fizeram o Estado nação preponderar
sobre reinos menores e organizações do tipo cidade-estado, que passaram a
ter duas opções : desaparecer ou seguir o modelo dos estados nacionais.
A montagem de uma poderosa máquina de guerra foi fundamental nesse
processo. A organizações pré-estatais diferenciavam-se pela quantidade
de capital e pela capacidade de coerção sobre seus territórios. Veneza,
por exemplo, usava o seu vasto capital para comprar os serviços de
defesa militar, grupos mercenários, a
Espanha,
por sua vez, tinha como característica a extração intensa do capital
escasso de sua população e a intensa coerção; portanto segurança e
esforço de guerra explicam o rumo do processo histórico. Os governos sem
máquina militar pujante padeceram diante de seus rivais. As diferenças
de tamanho foram um fator determinante da supremacia da
Espanha e
França
sobre os pequenos Estados italianos. O fator econômico isolado não
necessariamente tem o poder explicativo de maior importância.
Não há modelo padrão, teleologia, esquemas simplificados de
explicação, o autor mergulha na riqueza da história para entender a
formação dos modernos estados nacionais. O autor desce a uma análise
histórica detalhada e elenca outros fatores importantes na formação dos
estados nacionais como as navegações, o comércio de longa distância, a
necessidade de mercados integrados do capitalismo comercial, a luta da
burguesia contra os poderes da nobreza feudal, despesas com veteranos de
guerra, entendidos à luz da sua perspectiva teórica. (Cfr. Coerção,
Capital e Estados europeus, AD 990- 1992)
[3]
O esforço de guerra e a consequente necessidade de aumento da
arrecadação para a formação de grandes exércitos seriam, também, os
fatores responsáveis pelo surgimento do governo direto, ou da
centralização administrativa, com a adoção de um sistema tributário
único, sem interferência dos poderes locais. Tilly nega que os
soberanos europeus tenham optado por um modelo de organização do Estado,
e se esforçado para implementá-lo. A obtenção de recursos é missão
difícil, implica concessões para as classes privilegiadas e poderes
locais, como intervenções do
Estado
e serviços públicos, elementos fundamentais da barganha. As concessões
para a extração de recursos, com o objetivo de dar conta do desafio
imposto pelo imperativo dos padrões bélicos vigentes, explicaria o
surgimento de várias instituições modernas.
Inglaterra e
França,
com sua combinação de coerção e capitais, não são padrões, formas
ideais, ou modelos típicos de desenvolvimento, mas organizações que se
tornaram dominantes, em decorrência das contingências históricas, ou do
tipo de confronto bélico comum, e das respostas possíveis oferecidas
pelas nações envolvidas, a partir de um dado momento. A
República de
Veneza possuía vasto capital e contratava serviços militares e assim viveu por muito tempo. Na
Rússia,
um acordo entre príncipes beligerantes permitiu uma coerção extensa e
baixa capitalização do Estado, com base na exploração das atividades
agrárias. (Cfr. Coerção, Capital e Estados europeus, AD 990- 1992)
[3]
Charles Tilly, em
Democracy, 2007, classifica os estados
nacionais, num gráfico cartesiano, entre os de mais baixa capacidade e
menos democráticos e os de maior capacidade e altamente democráticos,
como também de alta capacidade e não democráticos e baixa capacidade e
democráticos. A democracia é um conjunto de relações entre Estado e
cidadãos que envolvem elementos como "extensão", ou seja, qual a
quantidade dos grupos que podem apresentar demandas ao
Estado, "igualdade", ou qual a disparidade de probabilidade dessas demandas se transformarem em ações do
Estado, "proteção", quais a liberdades respeitadas pelo Estado nessa relação e, finalmente, os compromissos mútuos assumidos
[7]
Premiações