segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

    Seymour Martin Lipset (Nova Iorque, 18 de março de 1922Condado de Arlington, 31 de dezembro de 2006) foi um sociólogo estadunidense, filho de imigrantes judeus russos

    Biografia

    Seu pai era impressor e sua mãe uma camponesa, imigrantes da Rússia Imperial.
    Lipset residiu em bairros pobres de Nova Iorque, graduou-se no City College de Nova Iorque, em 1943, e concluiu seu doutorado, PhD, na Universidade de Columbia, Nova Iorque, em 1949.
    Na juventude, sua origem operária, sua nacionalidade russa, e a influência universitária o levaram a aderir ao marxismo, sendo um socialista ativo, na vertente anti-stalinista, trotskista, e, posteriormente, a se aprofundar nas especificidades da sociedade americana. [1]

    Carreira

    Lipset foi professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, da Universidade de Columbia, da Universidade Harvard, do Instituto Hoover, da Universidade de Stanford, entre 1975 e 1990, da Universidade de Toronto e da Universidade George Mason. [2] [3]

    Pensamento Político e Sociológico

    Sua tese de doutorado, que foi seu primeiro livro, intitulada Agrarian Socialism: The Cooperative Commonwealth Federation in Saskatchewan, 1950, o notabilizou por se constituir num esforço de explicação de porque os EUA foram a única sociedade ocidental a não ter um Partido Socialista ou trabalhista forte. Cinquenta e um ano depois, seu livro, escrito em parceria com Gary Marks, intitulado It Didn't Happen Here: Why Socialism Failed in the United States, voltou a tematizar a mesma questão, fazendo um amplo estudo comparativo com as democracias ocidentais. [4]
    Lipset destacou-se pela riqueza de sua teoria da democracia e pela defesa da tese do excepcionalismo americano, sendo um admirador dos ideais fundadores da América.
    Ele foi um dos primeiros formuladores da "teoria da modernização", afirmando a democracia como consequência necessária do desenvolvimento e do crescimento econômico. [5] Lipset definia-se como um centrista, influenciado pelo pensamento social e político de Alexis de Tocqueville, John Stuart Mill e Max Weber[6]
    Tornou-se um ativo membro da ala conservadora do Partido Democrata, após abandonar o Partido Socialista em 1960, e foi um dos primeiros "neoconservadores", corrente intelectual e política que adquiriu grande visibilidade na Era Bush.
    Lipset identificava, nos EUA, a força da cultura antiestatal, individualista, e a defesa da meritocracia e do dinamismo econômico, como fatores que explicavam a ausência de um Partido Socialista forte naquele país. Segundo Lipset, os cinco pilares do credo político americano: liberdade, igualitarismo, individualismo, populismo, e laissez-faire explicavam o caráter excepcional da democracia americana. O grau de adesão a esses princípios nos Estados Unidos, teria uma intensidade muito elevada, não observada em outras democracias ocidentais. [7]
    Lipset propõe que nos países mais ricos e desenvolvidos, os conflitos distributivos se tornam menos radicais, o desenvolvimento econômico criaria condições para ânimos menos acirrados, em outras palavras, a prosperidade geraria, progressivamente, estabilidade política. [8]
    O ideal igualitário no plano da cidadania e nas condições de disputa no mercado de trabalho, a associação entre desenvolvimento econômico e democracia, ou entre capitalismo e democracia, era enfatizada. A democracia e o capitalismo faziam uma perfeita combinação afirmava Lipset[9]
    As esquerdas americanas, por essas razões, seriam, predominantemente, anarquistas e não socialistas. O caso americano, segundo ele, era muito pouco provável de vir a confirmar a tese marxista da luta de classes levando a uma revolução inevitável. Obra de referência: It Didn't Happen Here: Why Socialism Failed in the United States, 2001
    Lipset argumentava que a fraqueza do socialismo nos EUA refletia também a heterogeneidade da classe trabalhadora.
    A estabilidade da democracia americana era explicada pelo modo mais moderado de tratar o conflito de classes, fator que favorecia emoções políticas mais contidas. Mas essa estabilidade decorria, também, da vigência de instituições que possibilitam o dissenso e o conflito, ao mesmo tempo que contribuem para a legitimidade e o consenso. A garantia de que a minoria poderá se tornar maioria em um novo governo, a importância das lideranças políticas e dos valores políticos para a boa funcionalidade dos sistema político inserem-se entre os fatores de estabilidade das instituições democráticas. Obras de referência : Political Man: The Social Bases of Politics, 1960; The First New Nation, 1963, Consensus and Conflict, 1987; The First New Nation and Continental Divide: The Institutions and Values of the United States and Canada, 1990
    Publicou obras importantes sobre organização sindical, modernização, opinião pública, estratificação social e sociologia da vida intelectual.
    Ele, também, aumentou seu envolvimento com os assuntos do judaísmo com o avançar da idade e dedicou-se muito ao tema Conflito no Oriente Médio, formulando propostas para a negociação de paz entre israelenses e palestinos. [10] [11]

    Lipset sobre George Washington

    Lipset admirava a liderança política de George Washington, constituída nas relações de poder de sua colônia natal, o atual estado da Virginia, Mount Vernon, como membro da classe rica de proprietários rurais, onde era de grande importância o caráter e a reputação das lideranças públicas, porque dessas lideranças dependia a vida da comunidade. Do mesmo modo, fundamental foi sua liderança no cenário político nacional, para fortalecer as bases da legitimidade da nova nação, que não possuía uma longa tradição. George Washington era uma figura política que unia o país e simbolizava o novo Estado perante as nações, uma personalidade que usou seu carisma a favor dos ideais da nova república, sem adotar práticas despóticas. (Cfr. Lipset, Seymour Martin. "George Washington and the Founding of Democracy." Journal of Democracy 9 (October 1998): 24-38) [12]

    Cargos que ocupou e entidades que integrou

    • Presidente da Associação Americana de Ciência Política, 1979 a 80, e da Associação Sociológica Americana, 1992 a 93.
    • Presidente da Sociedade Internacional de Psicologia Política.
    • Presidente da Associação Sociológica de Pesquisa.
    • Presidente da Associação Mundial para Pesquisa de Opinião Pública.
    • Presidente da Sociedade para Pesquisa Comparativa.
    • Presidente da Sociedade Paul F. Lazarsfeld, em Vienna.
    • Membro da Academia Nacional de Ciências.
    • Diretor do Instituto Estados Unidos da Paz
    • Membro do Conselho do Albert Shanker Institute
    • Membro do U.S. Board of Foreign Scholarships
    • Membro do Comitê para Reforma da Lei Trabalhista
    • Membro do Commitê para uma Efetiva UNESCO
    • Consultor do Instituto Nacional Humanidades
    • Consultor do National Endowment for Democracy
    • Consultor do Comitê Judeu Americano.
    • Presidente do Professores Americanos pela Paz no Oriente Médio

    Veja também

    Obras

  • Agrarian Socialism: The Cooperative Commonwealth Federation in Saskatchewan, a Study in Political Sociology (1950)
  • We'll Go Down to Washington (1951)
  • Union Democracy com Martin Trow and James S. Coleman
  • Social Mobility in Industrial Society com Reinhard Bendix (1959)
  • Social Structure and Mobility in Economic Development com Neil J. Smelser (1966)
  • Economic Development and Political Legitimacy (1959)

domingo, 2 de dezembro de 2018

Em sua obra A Persistência do Antigo Regime , de 1981, Arno J. Mayer argumenta que o poder e a influência da aristocracia não desapareceu por completo, no século XIX, apesar do avanço da burguesia, através das revoluções liberais e da Revolução Industrial. O poder das antigas aristocracias europeias ainda se fazia sentir no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. A aristocracia desejando manter poder político -- a despeito da perda de sua antiga funcionalidade econômica e política, com o avanço do capitalismo industrial -- explicaria a Primeira Guerra Mundial, a emergência do fascismo, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.
A dinâmica do capitalismo industrial e da ordem liberal democrática gerou várias tensões nas nações europeias, do século XIX e XX, tensões étnicas, nacionais, sociais, e ideológicas. A luta ideológica e étnica na Europa, estilhaçou o pensamento liberal democrático e sua hegemonia cultural. A antiga aristocracia, por sua vez, sem sua função tradicional, se inseriu nesse contexto, difundindo uma ideologia reacionária, autoritária, investindo, assim, contra o ideal igualitário do pensamento liberal, reacionarismo que sustentava teses como a seleção natural no nível social, o caso do darwinismo social. Era uma resposta ideológica ao desafio colocado a sua existência como classe. [1] [2]
Tal ideologia reacionária era mais poderosa onde a incapacidade da burguesia e de sua ideologia em lidar com esses conflitos e tensões se fazia sentir de modo mais evidente. Essas ideias reacionárias serviam como resposta à contestação socialista, e à Revolução Russa.
A revolução industrial não foi um processo homogêneo, em certos países, o poder e a ideologia aristocrática ainda subsistiam com relativa força. Países com burguesia mais débil e tradição democrática mais fraca abriram as portas para essa ideologia de modo franco, como forma de enfrentar os desafios colocados pela modernidade.
Cai por terra, na perspectiva de Arno Mayer, a ideia otimista do avanço de um mundo racional, próspero, democrático, de modo generalizado, com o advento da burguesia, sobre os escombros da Bastilha em 1789, como pretendia a ideologia liberal.
Não há linearidade, não há teleologia, há avanços e recuos na história. As instituições republicanas não foram constituídas do zero, o Antigo Regime não havia desaparecido totalmente com a Revolução de 1789, nem com a Revolução de 1848, afirma Arno J. Mayer. [3] [4]

Crítica

O historiador britânico Eric Hobsbawn, nas suas três grandes obras, a Era das Revoluções (1789-1848), de 1962, a Era do Capital (1848-1875), de 1975, e A Era dos Impérios (1875-1914), de 1987, narra as transformações vividas pela sociedade britânica no século XIX, a formação do império colonial, a revolução industrial e o contexto europeu com as revoluções liberais, ele não tem dúvida em afirmar que a burguesia se tornou a classe dominante, e a Inglaterra uma sociedade capitalista, regida pelos princípios da economia liberal. A nobreza passou a exercer outras funções na administração, como na área do ensino por exemplo, e a depender de atividades empresariais para viver. Não houve uma persistência da aristocracia como classe dominante, no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, como afirma Arno Mayer. O que houve, na verdade, foi a adoção de um estilo de vida aristocrático pela burguesia. Foram os capitalistas que adotaram os valores da antiga aristocracia proprietária de terras e não uma submissão da burguesia ao poder da antiga aristocracia rural em troca de uma suposta segurança para seus negócios. [5]

Ver também

Escola de Annales